quarta-feira, 1 de outubro de 2008

1 + 1 = 3

- O que acha de uma família?
- Nada de travessuras. Eu te conheço...

 Entramos na redezinha. Os pés mal cabiam. Enquanto apenas balançávamos. O vento pairava infinito e a brisa salgava a preguiça. Deitamos sobre os braços um do outro e depois sorrimos. Estávamos à vontade sobre um sobrado de Casa-Grande, moleques pretos descansando na senzala, tudo de um 13º andar,
imagens, Recife,
 o mar
e a cidade.
 Ou talvez fossemos mais do que dois acalentados sobre uma bela paisagem, mais que dois amigos lendo Asterix e Obelix, como crianças dentro de uma lata de leite condensado. Éramos mais que a sorte dos desajeitados, mais que as extravagâncias, as estripulias, os exageros. Imóveis, no entanto.  Estávamos quietos num balançar suspenso. Para nós apenas o trespassado cheiro que subia entre as cortinas, o restinho de creme de cabelo, o xampu, uno, respeitando o aroma vago do incenso e a imensidão do trago no Malboro light. A respiração de cada um representava a cisão junto ao ar carregado sobre a fumaça de uma cidade. Fazendo-se silêncio, um instante espectral, uma angustia de quem se satisfazia pensando no átomo de Carbono, soletrou lá no fim da consciência uma frase remota, descompromissada e anticientífica: “Temos uma decisão a tomar”.
 Tínhamos que tomá-la antes da quebra do dia, da despedida do rosa e da vermelhidão que beijava o horizonte. Não queríamos firulas. Que mais extravagâncias. Não pensávamos em safadezas, bate-bate de esfrega-sem, coitíces. Bastaram dois minutos. A noite despencando através do dia. Uma dor-à-toa nas costas que crescia sem compromisso. E pronto! O sol despencou sobre a maré de uma decisão tomada ante o calor das coxas-entre-coxas, maiô, areias e coisa-lá-entre-acolá...
                                                     
- Está bem... Mas não toquemos mais no assunto... Também gostaria de ver um pequeno por aí...
- Que fique claro que não quero seu dinheiro... apenas eternizar-te em mim... mimo...
- E que fique registrado que não quero mais do que um pequeno pirilampo...